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Madrid

Os segredos dos jardins, da Europa à Ásia (Parte 2)

  • Foto do escritor: Apina Viajera
    Apina Viajera
  • 10 de ago. de 2023
  • 1 min de leitura

Atualizado: 17 de jan. de 2024

Com este post em duas partes, inauguramos a categoria Culturas Cruzadas do blogue. A ideia principal é criar um espaço de comparação entre atracções culturais que podem ser encontradas em diferentes partes do mundo, para as explicar "através dos olhos" da outra cultura.


Na parte anterior, analisámos a história dos jardins europeus, os seus diferentes estilos principais e os elementos que partilhavam com os jardins asiáticos. Hoje, vamos concentrar-nos nos jardins asiáticos e ver como diferem dos casos que conhecemos.

Vista del estanque principal con puente y arquitectura china en el Jardín Qinghui en Foshan, Shunde, China
Jardim Qinghui em Foshan, Shunde, China.


Jardins na Ásia: harmonia com a natureza

Na primeira parte deste tema, vimos que a trajetória dos jardins na Europa era relativamente recente e que tinha como lema a domesticação da natureza e do ambiente.


Tudo isto tem a ver com um princípio central da cultura moderna europeia: a centralidade do ser humano (antropocentrismo), superior a qualquer outra espécie e ao seu meio ambiente. Como veremos, os jardins asiáticos são um excelente exemplo de uma outra conceção do mundo, onde as pessoas estão integradas no meio ambiente e se colocam humildemente como mais uma peça na ordem da natureza.


Os jardins asiáticos são conhecidos pela sua harmonia, serenidade e profundo simbolismo. Em países como a China, o Japão e a Coreia, estes jardins reflectem, por exemplo, a filosofia taoísta, o budismo zen e o feng shui.


Vejamos agora algumas características comuns dos jardins asiáticos que os diferenciam dos seus congéneres europeus. Por uma questão de clareza, concentrar-nos-emos na Ásia Oriental (China, Japão, Coreia); mais tarde, aprofundaremos outras áreas, como o Sudeste Asiático, a Índia, o Médio Oriente, etc.

Dez características dos jardins asiáticos

Aqui estão as 10 principais características dos jardins da Ásia Oriental, independentemente do país que visitar:


1 - Harmonia com o entorno: no paisagismo oriental, é essencial que o jardim não se destaque abruptamente, contrastando demasiado com o seu ambiente natural. Pelo contrário, é uma continuidade do espaço mais vasto de que o jardim faz parte. Assim, os jardins asiáticos funcionam segundo o princípio da "paisagem emprestada" (shakkei em japonês; jiejing em chinês). Isto cria a ilusão de que os jardins asiáticos são maiores do que realmente são, o que é muito útil dada a falta de área em muitos países da Ásia Oriental.

Vista del volcán Sakurajima desde el Jardín Senganen en Japón.
Jardim Senganen, Japão.

2 - Integração com a arquitetura: um dos princípios centrais da arquitetura da Ásia Oriental é a procura da integração dos espaços interiores e exteriores. Assim, existem também muitas semelhanças de formas e cores entre o jardim e a arquitetura que faz parte do complexo ou que está próxima. Nos casos asiáticos, os jardins não estão "submetidos" à arquitetura, longe disso, são uma parte igual do mesmo sistema estético.

arquitectura del jardin gyeongbokgung seul corea
Jardim Gyeongbokgung, Seul, Coreia do Sul.

3 - Lugares de introspeção: os jardins europeus, reservados à realeza e à aristocracia, eram espaços de sociabilidade, de jogo do amor galante e de alianças políticas. Os jardins asiáticos, por outro lado, são um espaço especial para o encontro do indivíduo com a natureza. Os seus espaços íntimos e tranquilos (por exemplo, o jeongja no caso coreano) favorecem a reflexão pessoal e as práticas de meditação (como a cerimónia do chá japonesa, roji).

Mujer adulta practicando arrodillada la ceremonia de té en un santuario de Kyoto con vistas a un jardín
Jardim de chá em Quioto, Japão.

4 - Desfrutar do campo: as grandes mansões nobres ou os palácios reais da Europa construíram os seus jardins no interior de complexos urbanos ou mesmo no coração das cidades. Em contrapartida, a grande maioria dos jardins asiáticos situa-se em zonas rurais: perto de florestas, montanhas, rios ou grutas. Assim, para desfrutar destes espaços verdes artificiais, era sempre necessário deslocar-se, fazer uma viagem, que marcava a saída da vida quotidiana para uma atividade especial. De facto, é por isso que nos jardins asiáticos se encontram animais e insectos (carpas, borboletas, coelhos, tartarugas, patos, louva-a-deus).

Estanque con Carpas en Tohoku Japón
Lago de carpas em Tohoku, Japão.

5 - Utilização de elementos naturais: ao contrário dos exemplos europeus, onde surgem materiais exóticos, sofisticados ou mesmo transformados, os jardins asiáticos incorporam sempre materiais como as rochas, a areia e a madeira da zona (por exemplo, o karesansui, no caso japonês). Isto permite também uma outra consequência que não é contemplada nos jardins europeus: o envelhecimento nobre dos materiais de jardim com o passar do tempo (wabi-sabi em japonês, beleza no imperfeito, mérito na velhice).

Estanque con rocas ornamentales en el Jardín de Geyuan, Yangzhou, China
Jardim Geyuan, Yangzhou, China.

6 - Opostos complementares: se nos jardins europeus se fala em geral de simetria e de um mesmo estilo em todo o conjunto, o conceito de dualidade da filosofia oriental reflecte-se na conceção de espaços verdes onde se procura um equilíbrio entre princípios opostos mas complementares (yin-yang, em chinês; in-yo em japonês). Por exemplo, alternam-se espaços de luz e sombra, água e terra, movimento e quietude.

Puerta de la Luna, jardín de Hangzhou, China
Portão da Lua, Jardim de Hangzhou, China.

7 - Percurso sinuoso: Os jardins europeus são amplos, têm caminhos demarcados e geralmente têm um ponto de vista "central" ou privilegiado a partir do qual se pode ver todo o espaço. Pelo contrário, na Ásia Oriental, um outro princípio fundamental é o percurso intrincado: a partir da entrada do jardim, há caminhos sinuosos para ver partes do espaço de cada vez (miegakure, palavra japonesa que significa "esconder e revelar"). Tal como acontece com a "paisagem emprestada", isto também cria a ilusão de que os jardins asiáticos são maiores do que realmente são.

Sendero laberinto del jardín del Palacio Katsura, Kyoto, Japón
Jardim do Palácio Katsura, Quioto, Japão.

8 - Mudanças de escala: o jardim asiático joga com o redimensionamento dos objectos. Assim, pode haver pedras de tamanho gigante (suseok em coreano, gongshi em chinês) ou árvores em miniatura (penjing em chinês, saikei ou bonsai em japonês). Isto leva a um jogo de apreciação do detalhe: admirar a complexidade do grande tornado pequeno e as subtilezas que aparecem em algo pequeno tornado grande.

jardin suzhou jiangsu china tecnica de penjing y piedras gongshi
Jardim de Suzhou, Jiangsu, China.

9 - Espaços sagrados: as tradições religiosas da Ásia Oriental, como o taoísmo, o budismo ou o xintoísmo, dão grande importância aos espaços naturais. Os jardins são frequentemente construídos em sítios especiais relacionados com a filosofia e a cultura do país. Cada jardim asiático simboliza uma ligação entre o transcendente e o humano. O oposto é verdadeiro para os jardins europeus, onde os elementos religiosos que podemos ver são, no máximo, esculturas ou ornamentos dos deuses da Grécia e de Roma, mas estão lá por razões estéticas, não por devoção.

puertas torii en el santuario fushimi inari en kyoto japon
Santuário de Fushimi Inari, Quioto, Japão.

10 - Aberto todo o ano: os jardins europeus foram concebidos para uma determinada estação. Para se refrescarem no verão, para passearem na primavera, para apanharem sol no inverno em zonas quentes. Em contrapartida, os jardins da Ásia Oriental são concebidos para mostrar a beleza das quatro estações; qualquer bom jardim deve proporcionar experiências durante todo o ano. Assim, com o passar do calendário, partes do jardim tornam-se mais ou menos proeminentes, "ligadas" ou "desligadas", mas o jardim permanece sempre disponível.

Vista de invierno del Jardín de la Tranquilidad Matutina en Gapyeonggun, Gyeonggi, Corea del Sur
Jardim da Tranquilidade Matinal em Gapyeonggun, Gyeonggi, Coreia do Sul.

Tipos de jardins da Ásia Oriental

Para além disso, é provável que tenha em mente mais do que um jardim asiático e reconheça que não são iguais uns aos outros. E tem razão, ao longo do tempo surgiram diferentes estilos de jardinagem, principalmente estes três:


- Jardim chinês: este tipo é o mais antigo de todos, datando de há mais de 3500 anos. Em cada dinastia e em cada região existem variações, mas os princípios mais importantes permanecem os mesmos.

Os jardins chineses são geralmente de grandes dimensões. Existe sempre um edifício principal no centro do jardim ou luxuosos barcos-torre (shifang). Além disso, nos jardins chineses, os percursos são geralmente pré-estabelecidos e permitem menos bifurcações, com o objetivo de partir sempre de uma entrada e chegar à zona principal.

Na China, a tradição dos jardins intelectuais (wenren yuan), com espaços para a pintura e a poesia, foi muito forte. Tanto para as grandes famílias como para os mandarins - a burocracia chinesa - os jardins eram locais de crescimento pessoal e de aprendizagem.

Nos jardins chineses há árvores de fruto e um perímetro exterior sempre delimitado por um muro decorativo. Por fim, ao contrário do Japão, na China encontramos espaços que imitam paisagens terrestres, nomeadamente paisagens montanhosas ou interiores.

Vista del puente central del Jardín de Yuyuan, Shanghai, China.
Jardim Yuyuan, Xangai, China.

- Jardim japonês: são mais recentes em comparação com os seus vizinhos asiáticos, embora sejam certamente muito mais antigos do que os europeus. A técnica foi importada da China e adaptada às necessidades do Japão. À primeira vista, os jardins japoneses podem parecer mais caóticos do que os jardins chineses, devido ao princípio de "obedecer aos objectos" (kowan ni shitagau), ou seja, adaptar a disposição geral do jardim ao que os materiais exigem pelas suas características inatas.

Nos jardins japoneses encontramos sempre pelo menos uma ponte, elemento simbólico de extrema importância pela sua associação à ligação dos planos da realidade (o passado com o futuro, o terreno com o divino, o impuro com o puro, o feminino com o masculino). Encontramos também a técnica de cobrir partes do jardim com bolor, que é um elemento de prestígio: requer muito tempo e simboliza uma boa velhice.

Para além disso, os jardins japoneses são os mais ornamentados de todos os seus congéneres asiáticos. Existem esculturas, lanternas de pedra como na China e técnicas de poda escultural (niwaki). Ao contrário da China, no Japão existem zonas que imitam paisagens marítimas.

Vista panorámica con el puente principal hacia la isla del alma en el Jardín Ritsurin, Kagawa, Japón
Jardim Ritsurin, Kagawa, Japão.

- Jardin coreano: são mais antigos do que os jardins japoneses, mas não tão antigos como os jardins chineses. Os jardins coreanos são dominados por rochas ornamentais (susok), cuidadosamente seleccionadas e dispostas. Na cultura coreana, as rochas representam a perfeição celestial e são o elemento mais poderoso da natureza.

Além disso, os jardins coreanos colocam a maior ênfase na dissimulação de todo o trabalho e tempo necessários para os construir. Um grande jardim coreano é aquele que nos engana e parece ser "sem esforço".

A arquitetura que o acompanha tem geralmente cores muito vibrantes (dancheong), as três cores mais importantes da natureza: verde, azul claro, castanho avermelhado. Finalmente, em todos estes jardins há sempre pelo menos um lago.

Estanque del Jardín Changdeokgung, Seúl, Corea del Sur
Jardim Changdeokgung, Seul, Coreia do Sul.

Agora já conhece os jardins asiáticos e pode brincar a reconhecer os diferentes estilos quando os visitar! Sejam eles quais forem, são todos uma bela paragem nas nossas viagens. São uma janela única para apreciar a cultura destes países e a sua relação com a natureza, e não se esqueça que também pode encontrar exemplos fora da Ásia!

Perguntas para os nossos leitores:


Qual é o seu jardim favorito da Ásia Oriental?
Porque é que gosta de visitar jardins monumentais nas suas viagens?

Deixa a tua resposta nos comentários!

Comentários


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